A 28ª Feira Internacional do Cooperativismo e da Economia Solidária (Feicoop), que ocorreu entre 15 e 17 de agosto de 2022, foi um sucesso: recebeu 140 mil visitantes e 500 expositores no Centro de Referência de Economia Solidária Dom Ivo Lorscheiter em Santa Maria (RS). A 29ª Feicoop já tem data! Será realizada entre os dias 7 e 9 de julho de 2023, também em Santa Maria.
"A festa da Economia Solidária e da Feicoop, onde um outro mundo é possível, acontece aqui em Santa Maria", afirmou o coordenador da Feicoop e do Projeto Esperança/Cooesperança, José Carlos Peranconi, o Zeca, na cerimônia de encerramento.
Desde 1994, a Feicoop vem se firmando como um espaço de articulação e comércio direto com empreendimentos da Economia Solidária, da agricultura familiar camponesa, das agroindústrias familiares, de catadores/as, de povos indígenas, e de trabalhadores/as do campo e da cidade. O encontro de saberes e experiências entre estes grupos, e com o público visitante, acontece nos pavilhões de exposição e também em oficinas e seminários paralelos por meio de reflexões e debates sobre o momento de crise ética, econômica, política e social por que passa o Brasil.
O tema deste ano, assim como em 2021, “Construindo a Sociedade do Bem Viver: Por uma Ética Planetária”, enfatiza o compromisso da Economia Solidária com um comércio justo e com a Segurança Alimentar Nutricional Sustentável, livre de agrotóxicos, em favor da saúde e da qualidade de vida. Na sociedade do bem viver, o trabalho e a organização solidária estão acima da exploração e do capital.
A 28ª Feicoop é promovida pelo Projeto Esperança/Cooesperança, braço da Arquidiocese de Santa Maria; Prefeitura Municipal de Santa Maria; Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) e Instituto Federal Farroupilha (IFFar).
Confira a seguir a Carta da 28ª Feira Internacional do Cooperativismo e da Economia Solidária: “Construindo a Sociedade do Bem Viver: Por uma Ética Planetária”
Em 2022 celebramos os 28 anos da FEICOOP em Santa Maria/RS. Somos
sobreviventes da pandemia da Covid-19, uma luta que vitimou mais de 600 mil pessoas
em nosso País. Vivenciamos um longo período de dois anos de distanciamento social, por
medidas de segurança sanitária, num contexto tenso de negacionismo frente à ciência em
meio a uma crise econômica, política, ambiental e social que pôs em risco, ainda maior, a
vida dos segmentos sociais já empobrecidos. Neste tempo experimentamos, a partir das
ferramentas on-line de comunicação, novas formas de organização, de articulação e
solidariedade, indispensáveis à sobrevivência humana e dos recursos naturais.
No Brasil, em 2022 chegamos a uma realidade alarmante de 58% da população
que convive com a insegurança alimentar em algum grau leve, moderado ou grave ,
sendo que 33,1 milhões de pessoas não tem o que comer e o desemprego atinge a casa
de 11 milhões de pessoas. Por outro lado, verificamos uma profunda contradição,
conforme indica o relatório da Oxfam Brasil, de abril de 2022, denominado “Lucrando com
a dor: quem ganhou e quem perdeu na pandemia”. Foi neste mesmo período de
pandemia da Covid-19 que a riqueza dos bilionários teve alta recorde, com aumento de
lucros em 24 meses o equivalente a 23 anos, especialmente nos setores alimentício,
farmacêutico, de energia e tecnologia.
Em diferentes territórios no mundo verificamos a letalidade da violência direcionada
principalmente à corpos que fogem ao padrão normativo da sociabilidade capitalista:
negros, indígenas, crianças, jovens e mulheres e o povo de periferia. O genocídio, o
feminicídio, a misoginia, a LGBTfobia e o racismo estrutural escolhem esses corpos. E a
política de destruição dos recursos naturais (água, terra, ar, sementes), em nossos
territórios, também expressa o lado perverso do negacionismo, do conservadorismo e da
lógica de desumanização acima dos lucros.
Estas expressões revelam posicionamentos deliberados por políticas de Estado,
nos diferentes poderes que o constituem e ações da sociedade, as quais corroboram com
a violação de direitos e destruição de um conjunto de políticas públicas. Neste contexto,
sonhamos com um novo tempo!
Conforme nos inspira Rubem Alves: “O tempo se mede com batidas. Pode ser
medido com as batidas de um relógio ou pode ser medido com as batidas do coração
[...] o tempo do relógio é indiferente às tristezas e alegrias. Há, entretanto, o tempo que
se mede com as batidas do coração. [...] Chronos é um tempo sem surpresas: a próxima
música do carrilhão do relógio de parede acontecerá no exato segundo previsto. Kairós,
ao contrário, vive de surpresas. Nunca se sabe quando sua música vai soar”. É no sentido
do tempo Kairós que retomamos desde o processo de preparação até a realização da 28a
FEICOOP, os nossos encontros, trocas, convivências, discussões, compartilhamento de
experiências e construções coletivas.
A FEICOOP integra campo e cidade, produtores, consumidores, movimentos e
organizações sociais, trabalhadoras e trabalhadores de diferentes áreas, agricultoras e
agricultores familiares, agroindústrias familiares e artesanais, produção orgânica,
artesanato, confecção, alimentação, trabalhos com plantas ornamentais, entre outros.
Possibilita a participação protagonista dos povos indígenas, quilombolas, migrantes e
refugiados, mulheres e homens que trabalham com a coleta e tratamento de resíduos
sólidos e pessoas em situação de rua. Também integra a participação de gestores
públicos, universidades, estudantes de graduação e pós-graduação, pesquisadoras e
pesquisadores, organizações defensoras dos Direitos Humanos, coletivos e organizações
nacionais e internacionais, entre outros.
Nesta edição alcançamos a meta de 500 inscrições de expositores e a média de
público de 140 mil pessoas de 3 continentes, 8 países, e 13 estados do Brasil mais distrito
federal. A programação contou, nos três dias de FEICOOP, com exposição e
comercialização de produtos de diferentes áreas, com a 3a Jornada Formativa e a 3a
Mostra de Arte, Cultura e Diversidade da Economia Solidária. As oficinas e seminários
pautaram um conjunto significativo de temas como: a questão ambiental, hídrica e crise
sanitária; hortas comunitárias e hortas nas escolas; justiça ambiental; regeneração
ambiental; sustentabilidade; sistemas agroflorestais; desenvolvimento local; consumo
responsável; agroecologia; reforma agrária; alimentação saudável; produção orgânica;
saúde e Economia Solidária e o trabalho das promotoras e dos promotores populares de
saúde; o cuidado e o autocuidado das mulheres; debate sobre Bancos Comunitários,
Moedas Sociais, Fundos e Redes de Economia Solidária; a utilização das tecnologias de
informação, como estratégia de comunicação e construção de resistências; a organização
comunitária e coletiva no campo da cultura e das estereotipias raciais; a construção do
ecossocialismo na luta popular; a soberania e segurança alimentar e o exercício das
liberdades democráticas.
Ana Primavesi quando refere que “Não existe doença vegetal sem prévia
deficiência mineral. A terra não é um ‘recurso’ mas um organismo vivo que possui
necessidades. Tudo está interligado: a terra, a água, o ar, as plantas e os animais”, ela
nos desafia a firmar compromissos coletivos que contribuam para a construção de um
projeto de sociedade onde a vida esteja acima dos lucros. Assim, para que a Sociedade do Bem-Viver se efetive,
nós da 28a Feira Internacional do Cooperativismo e da Economia Solidária, assumimos os nossos
compromissos de:
1. Manter-se presente nas parcerias para aprender e contribuir com os
movimentos de economia solidária em ações referentes à construção de conhecimento,
partilha e experiências na interação e reivindicação de políticas públicas sobre economia
solidária, a nível municipal, estadual e federal.
2. Continuar acolhendo mais famílias de produtores rurais, artesãs e artesões,
agroindústrias e minorias sociais em nosso campo de ação, valorizando a vida e os
diferentes empreendimentos, primando sempre por uma atuação com foco no trabalho
profético de economia solidária, cooperativismo, agricultura familiar, consumo
responsável, geração de trabalho e renda via inclusão social no campo e na cidade,
através de diferentes formas de organização.
Registramos o duplo sentimento de alegria e realização dessa 28a FEICOOP,
primeiro ano sem a presença de nossa grande educadora popular Irmã Lourdes Dill. O
sucesso deste ano mostrou o que e o quanto aprendemos nestes 35 anos com ela. Isso
nos deixa felizes por este legado que nos acompanhará na caminhada de um esperançar
com a metodologia “aprendente e ensinante” deixado pela Irmã Lourdes Dill.
Finalizamos registrando nossos profundos agradecimentos aos empreendimentos
participantes, promotores, colaboradores, apoiadores e público visitante que, cada um em
sua valiosa forma de colaboração viabilizaram a realização e conclusão da nossa 28a
FEICOOP com o sucesso de sempre.
Até 07, 08 e 09 de julho de 2023 na 29a FEICOOP.