COLABORE

Feicoop encerra com sucesso e homenageia os 40 anos da Economia Solidária

Projetos

Neste ano a edição foi online em vista da pandemia, e ocorreu de 1º a 15 de dezembro com uma diversidade de eventos nos meio digital

Publicação: 21/12/2020



Há 26 anos a Arquidiocese de Santa Maria, RS, através do Projeto Esperança/Cooesperança, coordenado pela Irmã Lourdes Dill, organiza a Feira Internacional do Cooperativismo (Feicoop), da Economia Solidária e da Agricultura Familiar em parceria com a participação de muitas entidades, organizações, movimentos, Pastorais e empreendimentos de Economia Solidária. Neste ano de 2020 a edição foi online em vista da pandemia do Novo Coronavírus e ocorreu de 1º a 15 de dezembro com uma diversidade de eventos pelas plataformas digitais. A edição também foi alusiva aos 40 anos da Economia Popular Solidária (EPS) e para marcar este momento, houve a Certificação de Reconhecimento Público Ademar Bertucco entregues à voluntária de Cáritas Bagé, Mara Elaine Martins; Maurício Queiroz, da equipe da Ação Social Diocesana de Santa Cruz do Sul (Asdisc) e presidente do Conselho Estadual da Cáritas RS e a Recibela (Cooperativa de Trabalho dos Recicladores do Parque Bela Vista) da Associação das Entidades do Projeto TransformAção, de Passo Fundo, norte do Estado.

A Feicoop, contribuiu na motivação, fortalecimento e organização de muitas experiências no Brasil, na América Latina e outros continentes. É um modelo de uma outra economia, mais justa e solidária em favor da vida e que vem consolidando o Bem Viver para toda humanidade no campo e na cidade. E o desafio desse ano foi vencido. 

Para a Secretária Regional da Cáritas RS, Jacira Dias Ruiz, “celebrar os 40 anos de atuação da Cáritas Brasileira na temática da EPS confirma um visão e compromisso claro de sua importância para o desenvolvimento humano e local. Essa prioridade nunca foi posta em dúvida nos processos de planejamento estratégico da Cáritas RS, pois entendemos que a EPS é uma forma de cumprir sua missão de atuar "para que todos tenham vida em abundância". Nosso entendimento é de que pela EPS contribuímos para semear a semente da organização de grupos, de fóruns e de redes a partir do trabalho, geração de renda e consumo solidário, justo e responsável. É também uma forma de denúncia e crítica à economia da desigualdade que gera concentração de riqueza nas mãos de poucos, às custas da exploração do trabalho e dos recursos da natureza”.



Este ano, “a crise sanitária nos impôs limitações físicas. Nos impediu de vivenciar os grandes momentos da Feira, como os seminários, as oficinas, as atividades culturais, nos quais, além de refletir sobre os mais variados temas, encontrávamos e abraçávamos pessoas queridas. Nos impediu também de estar em contato, apreciar e adquirir produtos de centenas de empreendimentos de Economia Solidária. Mas a força deste movimento social move montanhas e transforma sonhos em realidade. Assim, em parceria com mais de 40 organizações, entre as quais a Cáritas RS, fomos construindo, passo a passo, a 1ª edição “online” da Feicoop, mais uma façanha que entrará para a história da Ecosol”, comentou Roseli Dias, assessora de projetos da Cáritas RS.


Certificações

Mara Elaine Martins, voluntária da Cáritas Bagé, que trabalha com mulheres em projetos de empoderamento e renda, recebeu o Certificado de Reconhecimento Público Ademar Bertucci pelos 40 anos de EPS. “Com muita alegria e gratidão recebi esta homenagem. Gratidão pelo reconhecimento do trabalho e compromisso pela responsabilidade que me é confiada. Responsabilidade pelo trabalho que é realizado por tantas pessoas que fazem parte dos empreendimentos que continuam acreditando que uma nova economia é possível.

Segundo Mara, a Cáritas tem um papel importante nesta caminhada da EPS, assessorando, fomentando e contribuindo para o empoderamento das pessoas. “Ela ajuda a construir uma economia solidária com o olhar cuidadoso com a casa comum, respeitando cada realidade e os dons de cada indivíduo”, completou Mara.

O presidente do Conselho Estadual da Cáritas RS, Maurício Queiroz, também foi homenageado. Maurício tem uma longa história na Economia Solidária, participou pela primeira vez da Feicoop em 1999. “Este ano pude acompanhar diversas atividades da edição virtual. Destaco a realização do 30º Seminário de Alternativas a Cultura do Fumo que pude ajudar na organização pela Diocese de Santa Cruz do Sul bem como atividades voltadas ao debate sobre Agroecologia e Economia de Francisco”, ressaltou. 

De acordo com Maurício, a Feicoop é uma ação muito importante “que irradia a esperança e a construção de uma economia que procura colocar o ser humano em primeiro lugar. Lá na feira podemos ver a diversidade de rostos, histórias e experiências, sem deixar de falar que lá podemos encontrar o que precisamos para nossa vida, alimentos saudáveis vindos diretamente da roça, artesanatos, roupas, cultura, luta, companheirismo e povo que se une em prol de um mundo mais justo e solidário”, comenta.

Maurício conta que nesses mais de 20 anos, teve a oportunidade de vivenciar um pouquinho na prática na Diocese especialmente trabalhando com os PACs e a luta pela Agroecologia e as sementes crioulas junto aos jovens da roça e pequenos agricultores. “Neste período tive a oportunidade de estar com Ademar Bertucci em algumas vezes, um ser humano incrível e muito dedicado com esta questão e confesso que estou quase sem palavras para falar da minha alegria por receber um certificado que leva o nome do Ademar Bertucci. Agradeço a Cáritas Regional pela indicação e também a Ação Social Diocesana de Santa Cruz do Sul-ASDISC, a qual estou vinculado, junto com tantas e tantos outros agentes de Cáritas e Pastorais Sociais pelo apoio a este trabalho junto a EPS e por hoje receber o Certificado de Reconhecimento Público Ademar Bertucco”, disse.


Do norte do Rio Grande do Sul, a Cooperativa de Trabalho dos Recicladores do Parque Bela Vista (Recibela)

A Cooperativa de Trabalho dos Recicladores do Parque Bela Vista, Recibela, também certificada, surgiu em dezembro de 2009 sob iniciativa da Associação das Entidades do Projeto TransformAção que reuniu recicladores da cidade de Passo Fundo, região norte do Rio Grande do Sul, após um encontro de diálogo e formação com trabalhadores e associações da cidade. Na ocasião, eram os primeiros passos para a articulação entre os grupos e pessoas, oportunizando e preparando as condições para o desenvolvimento do trabalho dos recicladores em formato associativo. Entre as demandas emergentes, surgiu a provocação de começar a triagem de resíduos do Aterro do município de Passo Fundo, uma vez que lá estavam trabalhadores sob condições precárias de trabalho e com atuação irregular. Daí surge a Associação dos Recicladores do Parque Bela Vista. Nos anos seguintes, com melhoras expressivas e significativas em infraestrutura, foram melhorando as condições para o desenvolvimento da triagem dos resíduos. Em 2014 tornou-se Cooperativa de Trabalho dos Recicladores do Parque Bela Vista, prosseguindo com avanços e ampliação do espaço e, sobretudo, a formalização de Contrato de Prestação de Serviços com o município no ano de 2017, com previsão de 60 cooperados, garantindo custeio de manutenção de equipamentos, conservação e limpeza do espaço físico do Aterro que passava a se chamar Centro de Triagem e Transbordo com município de Passo Fundo. 



  A contribuição da atuação da Recibela para o município de Passo Fundo e para a Economia Solidária é expressiva. Ainda assim, como a maioria da cooperativas de Catadores na cidade e estado do Rio Grande do Sul dependem, de um lado, da vontade política dos gestores municipais a quem compete a responsabilidade de implantação da Política Nacional de Resíduos (PNRS) na sua totalidade, incluindo uma forte ação de educação ambiental. De outro lado, as cooperativas dependem da consciência e adesão da população na separação e destinação correta dos resíduos. Disso depende a qualificação e estabilidade da renda dos trabalhadores e trabalhadoras. 

O projeto tem mudado vidas. A cooperada Ivani Proença está há dois anos na Recibela, entrou no projeto um dia depois de deixar a reabilitação, dependente química, quase teve recaída, mas foi resgatada pelo trabalho na reciclagem. “Depois que comecei a trabalhar, não usei mais medicação porque a cooperativa me ocupa a cabeça, eu gosto muito de trabalhar e dei uma nova perspectiva de vida para mim e para minha família. É o lugar onde mais eu gosto de estar hoje em dia, sou muito grata”, contou. 

O presidente da Recibela, Nelson Claro de Ramos, que mesmo antes da cooperativa, já era catador, também teve sua vida mudada. “Eu gosto do meu trabalho, eu gosto de reciclar. Ser reciclador é um modo de vida e foi por meio da reciclagem que construí a família, que é o meu tesouro, e minha casa própria”, narrou.


Tag