COLABORE

São Leopoldo (RS) acolhe o 16º Encontro Estadual de CEBs

Geral

Encontro aconteceu de 19 a 21 de abril de 2024, com o tema "CEBs, migrantes de ontem e de hoje: os desafios de justiça e amizade social"

Publicação: 16/04/2024



Representantes da Cáritas do RS no 16º Encontro Estadual das CEBs em São Leopoldo


O 16º Encontro Estadual das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) do Regional Sul 3 foi realizado de 19 a 21 de abril de 2024, em São Leopoldo (RS). O tema do encontro foi "CEBs, migrantes de ontem e de hoje: os desafios de justiça e amizade social". O encontro reuniu centenas de agentes das CEBs das 18 arqui/dioceses do Regional que durante os três dias se inspiraram no lema: “Alarga o espaço de tua tenda” (Is 54,2) para refletir sobre os desafios na realidade atual e como enfrentá-los.

A Cáritas RS esteve presente no encontro, dando sua contribuição.

Ao final das atividades foi anunciada a escolha da Diocese de Bagé para sediar o 17º Encontro Estadual das CEBs do RS e divulgada a Carta de Compromissos, que enfatiza a necessidade urgente de AGIR frente aos desafios da realidade atual de migrantes no Brasil.

Leia a íntegra da Carta a seguir:

Carta testemunho do que vivemos no 16º Encontro Estadual das CEBs do RS


À grande rede gaúcha de migrantes (posto que migrantes somos nós),

A Paz e o Bem da parte da Santíssima Trindade, comunidade primeira, modelo e fonte de vida para nossas amadas Comunidades Eclesiais de Base.

Eis que, de 19 a 21 de abril, São Leopoldo viu chegar o trem das CEBs, trazendo nos vagões a sua história, fazendo-nos recordar de toda a sua trajetória, do 1º ao 16º Encontro Estadual. Pertencente à Diocese de Novo Hamburgo, situada na região metropolitana de Porto Alegre, a cidade acolheu, neste que é o primeiro encontro presencial após a pandemia, as delegações das diversas regiões do Estado, que assim puderam refletir, vivenciar e celebrar os desafios da justiça e da amizade social para os migrantes de ontem e de hoje. Fazendo memória do Deus do Êxodo, “que faz justiça ao órfão e à viúva, e ama o estrangeiro” (Dt 10,18), a nossa gente sentiu-se calorosamente conclamada a “amar o migrante, porque também nós fomos migrantes na terra do Egito” (Dt 10,19) . A data escolhida para o início de tão grandiosa reunião não deixa de ser emblemática, uma vez que na sexta (19) celebramos o dia dos povos indígenas. A abertura contou, inclusive, com a apresentação cultural da comunidade kaingang Por Fi Ga, habitante do município. Nada mais simbólico, considerando-se que, embora “indígena” signifique “natural do lugar”, a comunidade Por Fi Ga é composta por famílias que foram forçadas, em algum momento, a deixar seu território de origem, obrigando-se a migrar para a zona urbana de São Leopoldo, onde vagou por algumas regiões até ser finalmente assentada em um bairro da periferia. Essa condição, por si só, já é um indicativo dos motivos pelos quais o tema das migrações foi escolhido para o encontro. De fato, apesar da alegria contagiante da equipe de animação, que empolgava os participantes com seu repertório de músicas da caminhada, o desenvolvimento do tema causou grande apreensão da assembleia com a situação de diversos grupos migrantes. Como de praxe, o primeiro momento de reflexão nos convidou a VER por meio de uma análise da conjuntura atual. A dupla responsável pela assessoria, Jaqueline Bertoldo (pesquisadora de Direitos Humanos e Mobilidade Urbana) e Pe. Alfredinho (Pastoral do MIgrante), levou-nos a perceber como os diversos movimentos migratórios que formaram – e continuam formando – o povo brasileiro privilegiaram alguns grupos (notoriamente os de origem europeia), ao passo que escravizaram – e continuam oprimindo e empurrando para as periferias – os não-brancos. Essas correntes migratórias se deram, num primeiro momento, de fora para dentro do Brasil (e continuam se dando, em especial, para povos fugindo da opressão), e depois se intensificaram dentro do território nacional (novamente num contexto preferencialmente de fuga de realidades sofridas). A conclusão dessa leitura de cenário foi a de que precisamos “alargar as tendas”, isto é, acolher o migrante, evocando claramente a mística do Êxodo, quando o povo hebreu habitou em tendas durante todo o seu processo migratório de fuga da opressão do faraó. O momento seguinte, de iluminação bíblica (JULGAR), só fez reforçar esse sentimento. Após uma breve explanação conduzida por Ildo Bohn Gass, do CEBI, os participantes foram divididos em grupos, identificados simbolicamente com nomes de países da periferia do mundo. Cada grupo leu um texto diferente da Bíblia, selecionado de um livro do Primeiro ou do Segundo Testamentos. A temática comum era a imagem do migrante (também chamado de “estrangeiro” ou “forasteiro”) nos textos sagrados. Dada a centralidade dos Evangelhos, chamou-se especialmente a atenção para o fato de que Jesus, também ele, foi um migrante. Primeiro, em seu nascimento, distante da terra onde viviam seus pais e onde ele mesmo viria a crescer. Depois, conforme o Evangelho de São Mateus, tendo de fugir para o Egito por um tempo. E, ao longo de sua vida pública, indo e vindo de Jerusalém e de regiões fora da Judeia e da Galiléia, ora para fugir da perseguição, ora para espalhar a Boa Nova a outros povos. Por fim, em Mt 25,43, Jesus mesmo diz: “(Apartem-se de mim, malditos, porque) fui forasteiro e não me acolheram” (ou seja, mantiveram suas tendas estreitas). Por ser a leitura popular, tão cara à mística das CEBs, uma experiência vivencial (a Bíblia na Vida e a Vida na Bíblia), esse momento culminou com a Celebração dos Mártires e Defensores da Vida. Erguendo-se como uma verdadeira multidão peregrina, a assembleia organizou-se para uma caminhada entre o Santuário do Sagrado Coração de Jesus e o Museu do Rios dos Sinos. Esse momento de manifestação fez passar pelas ruas da cidade uma Igreja que “alarga sua tenda” em direção à Casa Comum, que tem como símbolo, em São Leopoldo, o Rio dos Sinos, ponto de chegada de migrantes e fonte de sustento para o povo. Durante o trajeto, percorrido a pé (inclusive, com algumas pessoas sentindo no próprio corpo o cansaço e demais dificuldades pelas quais passam os povos refugiados em suas travessias), foram recordadas as lutas dos mártires: Chico Mendes, Frei Tito, Irmã Cleusa, Dom Oscar Romero, Roseli Nunes, Irmã Doroti, Pe. Josimo, Sepé Tiaraju e Margarida Alves, entre tantos outros, de ontem e de hoje. Após refletir o Evangelho de Lucas, no qual o próprio Jesus proclama que “o Espírito do Senhor está sobre todas as pessoas que proclamam a libertação do povo oprimido” (cf. Is 61,1-3; Lc 4,18-21), o grupo foi concluir sua experiência peregrina indo dormir nas casas das famílias das comunidades que abriram suas portas para acolher os “forasteiros”. Retomando as reflexões dos dias anteriores, ficou a cargo do último momento dar espaço para os devidos encaminhamentos rumo a uma AÇÃO concreta do povo de Deus. Estamos de acordo que o tratamento dado a migrantes e refugiados é desigual, adotando (quem acolhe) diferentes posturas a depender de seu lugar de origem. Precisamos obviamente combater essa discriminação e fazer valer a justiça e a amizade social a todos os povos que transitam em nosso meio. Tal ação deve começar pelas nossas próprias comunidades. Como no Êxodo, vejamo-nos também nós um povo peregrino, alarguemos nossas tendas, isto é, abracemos a todos os povos itinerantes em sua diversidade, sem distinção de forma alguma, mas especialmente assistindo aos mais necessitados, ou seja, àqueles que, refugiados de suas terras e condenados a sofrer em território alheio toda sorte de racismo, xenofobia, exploração, entre outros tipos de preconceito e de intolerância. E assim partimos de volta para nossas casas e tendas, cantando, louvando a Deus e tendo a certeza de que acolher a diversidade é o caminho para o mundo novo, onde toda a humanidade, independente de cor ou credo, seja irmã. São Leopoldo, 21 de abril de 2024.


CONFIRA AQUI A  COBERTURA COMPLETA DO ENCONTRO na reportagem de Marcos Antonio Corbari./Brasil de Fato. 


No vídeo abaixo, Padre Flávio fez um convite e, ao final, falou sobre as expectativas em relação ao 16º Encontro, dias antes da sua realização. O vídeo traz a canção que remete ao tema deste ano:


Tag