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45ª ASSEMBLEIA DA CÁRITAS RS: SINODALIDADE, DIREITOS E JUSTIÇA SOCIOAMBIENTAL

Geral

A 45ª Assembleia Estadual da Cáritas Rio Grande do Sul foi realizada de 26 e 28 de outubro de 2023 no Centro Diocesano de Formação Pastoral

Publicação: 17/11/2023




Após três dias de reflexões, com momentos de visita a campo e celebrações da fé, da resiliência e da solidariedade, representantes das Arqui/Dioceses da Cáritas Rio Grande do Sul concluíram a 45ª Assembleia Estadual da Cáritas RS, em Cruz Alta, “encharcados” de afetos, esperançar e desejos de paz. 

Durante a 45ª Assembleia Estadual, Jacira Teresinha Dias Ruiz foi reeleita para o cargo de secretária regional da Cáritas RS para mais um quadrienal, e Edegar Passaglia, da Cáritas Diocesana de Erexim, foi eleito conselheiro titular para o mesmo período, em substituição a Maurício Queiroz, da Ação Social Diocesana de Santa Cruz do Sul, que encerrou assim seu mandato. A comissão eleitoral foi composta por Solange Pegoraro (presidenta), Begair do Carmo Flores (vice-presidenta), Maurício Queiroz (secretário) e Luís Carlos Campos (fiscal). Participaram da eleição 10 entidades-membros, uma representante do secretariado nacional, três conselheiros titulares, uma conselheira suplente, um representante da diretoria nacional e a secretária regional da Cáritas RS. 

O Conselho Regional da Cáritas RS indicou e a assembleia confirmou Adriana de Moraes Teixeira, da Cáritas Arquidiocesana de Pelotas, como nova presidenta, cargo exercido até então por Maurício. 


Jacira Teresinha Dias Ruiz (secretária regional reeleita), Mara Elaine Martins, Adriana de Moraes Teixeira, Mauricio Queiroz, Edegar Passaglia e Maria Lisiane Quevedo Cunha (integrantes do Conselho que se renova)

Jacira Teresinha Dias Ruiz (secretária regional reeleita), Mara Elaine Martins, Adriana de Moraes Teixeira, Mauricio Queiroz, Edegar Passaglia e Maria Lisiane Quevedo Cunha (integrantes do Conselho que se renova)


Os diálogos e o compartilhamento de experiências que se desenvolveram nestes três dias possibilitaram pensar coletivamente em estratégias baseadas na sinodalidade e na luta em defesa de direitos e da justiça socioambiental, tema geral do encontro, que acompanha a proposta da 28ª Assembleia da Cáritas Brasileira, a ser realizada em novembro, em Belo Horizonte (MG). 

Foram debatidos os diferentes contextos da realidade regional, as dificuldades, sugestões e recomendações apontadas no processo de avaliação no encontro do Interregional Sul e nas rodadas de escuta feita nos Interdiocesanos, permitindo assim traçar um mapa geral das perspectivas da Cáritas no Rio Grande do Sul para os próximos anos. Dos “cochichos” e reflexões em grupos resultaram sistematizações e conclusões, que contaram com o apoio do facilitador Gelson Nezi, da Cáritas Regional de Santa Catarina, especialmente convidado para a ocasião. 


Gelson Nezi, da Cáritas Regional de Santa Catarina, atuou como facilitador.

Gelson Nezi, da Cáritas Regional de Santa Catarina, atuou como facilitador.


Um dos destaques da 45ª Assembleia Estadual aconteceu no dia 27 de outubro, quando Carlos Humberto Campos, diretor executivo da Cáritas Brasileira, falou sobre a sinodalidade na Rede Cáritas. “Sinodalidade é saber que o corpo da Igreja, da Cáritas, o/a agente voluntária que está lá na ponta, o serviço mais humilde tem a mesma importância que a gente em nível nacional”, observou. 


Carlos Humberto Campos: “o serviço mais humilde tem a mesma importância que a gente em nível nacional”

Carlos Humberto Campos: “o serviço mais humilde tem a mesma importância que a gente em nível nacional”


“Estamos a serviço. Enquanto Cáritas, somos imbuídos e imbuídas do Magistério da Igreja. Um requisito é fazer com competência. Deus zela pelas coisas boas, bem-feitas, e para isso a gente tem que capacitar", disse. "Não é suficiente a capacitação profissional. Os seres humanos precisam de cuidados tecnicamente corretos, mas sobretudo de humanidade. A nossa formação tem que chegar ao coração das pessoas, não só ao intelecto. Quando chega ao coração, se compreende a dimensão de praticar a sinodalidade com outras pessoas. Temos que resgatar a metodologia da FORMAÇÃO DO CORAÇÃO. Ouvir, escutar, vivenciar junto com as pessoas, para adquirir confiança. Que as pessoas vejam em mim um irmão, um companheiro de caminhada. Isso é a pedagogia do coração", acrescentou.

O diretor executivo falou também da missão assistencial da Cáritas. Jacira Teresinha Dias Ruiz, secretária regional da Cáritas RS, comentou: “É importante ter nitidez de que somos tanto uma entidade vinculada à Igreja Católica como juridicamente somos uma entidade de assistência social comprometida com todas as políticas e direitos, como um pássaro com duas asas. Se uma asa está quebrada, o pássaro não voa bem”. 

Roseli Pereira Dias, integrante da Coordenação Colegiada Regional, enfatizou o caminho da formação: “Nosso processo formativo não é bancário. É prática e reflexão”. 

“A rede vai se dando no ser presença. Qual é a nossa incidência?”, instigou Nilza Mar Macedo, da Cáritas Diocesana de Bagé. 

Estas e outras reflexões foram sendo acolhidas, debatidas, incorporadas até o final do encontro. 


Visita à escola e café colonial: exemplos práticos do esperançar coletivo




Na tarde do dia 27, a visita à Escola Municipal Roberto Textor, no município de Jacuizinho, a cerca de 90 km de Cruz Alta, seguida de um café colonial do empreendimento familiar Ribeiro, trouxe exemplos in loco de ações possíveis envolvendo crianças, adolescentes e adultos na construção da sociedade do Bem Viver. Pais e mães, professores e professoras, estudantes e pessoas da comunidade que colaboram com trabalhos na escola se uniram para receber o grupo participante da 45ª Assembleia Estadual com um carinho contagiante. Mostraram ações concretas na horta, lavoura, marcenaria e costura, além da proteção de uma fonte de água e da construção de uma cisterna que permitiu irrigar os plantios, executadas a partir de um apoio inicial da Cáritas para a compra de máquinas e equipamentos. 

A visita à escola começou com uma confraternização de boas-vindas no auditório, onde estavam reunidos o prefeito Diniz José Fernandes, lideranças religiosas e representantes de comunidades quilombolas e demais organizações locais. No meio de uma grande roda formada por visitantes, estudantes, comunidade escolar e forças vivas organizadas localmente, foram sendo colocados, no chão, no centro e à vista de todos e todas, uma emocionante riqueza de símbolos de união e parcerias.

Salete da Rosa, integrante da Emater e da Cáritas, revezou com o Padre Luiz Carlos Moroni a leitura do texto que fazia a chamada das bandeiras, máquinas de costura, roupas, pães e bolachas, frutas e hortaliças, produtos em bambu, tudo cuidadosamente colocado no centro da roda, lembrando uma parceria com a Cáritas que começou 13 anos antes: 

Coser histórias, juntando pedaços e pedaços, em cada retalho uma lição, nos construindo uma grande colcha, com pedaços coloridos, e outros nem tanto. Sozinhos, somos capazes, mas unidos somos imbatíveis. A horta comunitária para os quilombos tem esse propósito. Pão e sonho, forno e fogão: assoprou para o grupo de feirantes e quilombolas, e o cheirinho de pão gostoso se espalha no ar. A cultura, sob todas as formas de arte, de amor e de pensamento, através dos séculos, capacitou o ser humano a ser menos escravizado. Integrar, reunir, celebrar. Estar ao lado mostrando que podemos, mesmo quando nós mesmos não acreditamos que somos capazes. Segurança e Soberania Alimentar, plantar para colher. Frutificar. Viajar, participar, confraternizar, construir teias de relacionamentos. Qual é o segredo? Mágica? Não! É o ombro lado a lado! É a força da união, é o juntos (e juntas) podemos mais! Escolas, Prefeitura Municipal com suas secretarias, Câmara de Vereadores, Emater/RS Ascar, Diocese de Cruz Alta, Paróquia de Tunas, Paróquia de Campos Borges, Capela Menino Deus, Cotriel, Sicredi, Banrisul, Círculo de Pais e Mestres, Amigos da Escola, Agentes de Saúde e Liga de Combate ao Câncer. Quais serão os próximos capítulos? Não sei, a única certeza que levo, na caminhada da Cáritas em Jacuizinho, é que estaremos todos juntos rompendo barreiras em busca de vida em abundância. 

Jacuizinho é Cáritas.

Nós somos Cáritas.”

Em seguida, em pequenos grupos, todos e todas foram convidadas a visitar, como ciranda, as estações de lavoura, horta, fonte de água, cisterna, máquina de costura, marcenaria, das quais haviam recebido, na chegada à escola, um produto exemplar: um salgado, uma lixeira de pano, um copo de bambu, uma rapadura, uma água saborizada. E assim, de estação em estação, foram escutando as explicações de meninos e meninas, jovens e adultos envolvidos nos projetos. 

No caminho entre as estações chamavam a atenção os brotos de mandioca, marmelo, abóbora, moranga, bambus, figos. Na estação da lavoura, o porongo, o pepino, uma provinha de suco de cana de açúcar. Em outra, os resultados da educação financeira, com a verbalização dos sonhos dos estudantes, como o de vender lápis de bambu para pagar piquenique, rodízio de pizza e até uma viagem a Porto Alegre para conhecer os estádios dos times de futebol favoritos e visitar o Zoológico. Planejamentos feitos a curto, médio e longo prazo, em aulas práticas de cidadania e economia solidária. 

O dia encerrou com a degustação do Café Colonial Ribeiro, do casal Izabel e Celso Ribeiro e filhos, uma ampliação do projeto da Agroindústria Bela Vista (@agroindustriabelavista), iniciado com apoio da Cáritas para a compra de um pequeno forno para assar bolachas e a construção de uma cisterna de águas para viabilizar cultivo de hortaliças.



“A visita nos mostrou o cuidado das crianças, jovens e idosos com o meio ambiente; a perseverança do trabalho que vem acontecendo há anos, e a esperança de continuidade, como disse uma senhora ao ver as plantações: os jovens vão fazer daqui a pouco o que não temos mais condições físicas de fazer”, relatou Mara Elaine Martins, da Cáritas Diocesana de Bagé. 


Sustentabilidade, gestão, juventude: desafios 

Participantes da 45ª Assembleia Estadual apontaram como estratégia para os próximos quatro anos investir na formação continuada e descentralizada para o voluntariado, visando a incidência em políticas públicas e priorizando as áreas de atuação MAGRE (Meio ambiente Gestão de Riscos e Emergências), Economia Popular Solidária e Juventudes.

A avaliação final foi também um momento de agradecer a preparação e a acolhida calorosa da Cáritas Diocesana de Cruz Alta e de reiterar os compromissos com a Casa Comum e com a própria Cáritas. 

“A Assembleia foi leve, construtiva, dinâmica, propositiva e avaliativa”, resumiu Gelzon. “Nos escritórios, às vezes ficamos longe das práticas e seus resultados. Experiências como essa encharcam a gente de esperança”, completou. 

“A Cáritas continua em missão”, avaliou Carlos. “Vamos ter a Assembleia Nacional, com eleição da nova diretoria. Vou sair da gestão atual sabendo que não se pode fazer tudo. É um aprendizado infinito”, observou.

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