COLABORE

ENCONTROS PROMOVEM REFLEXÃO SOBRE A POLÍTICA NACIONAL DE PROTEÇÃO DA CÁRITAS

Institucional

Marco orientador da Rede Cáritas, a Política de Proteção aborda temas que fazem parte do dia a dia de agentes e de voluntários e voluntárias

Publicação: 09/06/2022


A Cáritas Regional do Rio Grande do Sul promoveu três encontros virtuais, em junho de 2022, para refletir sobre a Política Nacional de Proteção da Cáritas Brasileira, marco orientador que reúne o Código de Conduta Ética e os Mecanismos de Salvaguarda da instituição. A Política foi construída coletivamente por integrantes da Cáritas de várias regiões. Lançada em março de 2021, visa a contribuir para a prevenção, o enfrentamento e a intervenção em casos de assédio, preconceito, discriminação e em outras circunstâncias do cotidiano.

“A Política Nacional de Proteção é um material para estudo, para que a rede vá se apropriando dele na prática”, disse Nilza Mar Fernandes de Macedo, secretária da diretoria da Cáritas Brasileira e da Cáritas Diocesana de Bagé (RS) e integrante da Província Eclesiástica de Pelotas (RS). Ela apresentou o documento no dia 7 de junho de 2022 para mais de 50 representantes de dioceses, voluntários e voluntárias da Caritas Regional RS e da Cáritas Regional SP. 


Carlos


Ao abrir o encontro, Carlos Campos, diretor executivo da Cáritas Brasileira, destacou que a Política está em construção. “Ela vem a complementar a missão Cáritas de cuidado com pessoas em situação de vulnerabilidade e com as relações”, afirmou. Trata-se de uma política pedagógica, não punitiva, observou Jacira Dias, assessora de projetos da Cáritas Regional RS. 


Portas abertas para a Sensibilização 


Os Encontros de Formação da Rede Cáritas RS abriram portas de sensibilização sobre a Política de Proteção. Começaram no dia 7 de junho, com a reflexão da juíza aposentada Isabel Maria Sampaio Oliveira Lima, facilitadora dos Círculos de Paz do Instituto Moinhos de Paz, que falou sobre “Dimensões do Cuidado: como promover a proteção?”. 

Isabel Lima compartilhou suas experiências de vida para celebrar a esperança: “Apesar das dores do mundo, das violências e do desrespeito, apesar da aparente orfandade, insistimos na nascente de água doce na aridez do planeta”. Apresentou-se como uma aprendiz de todas as pessoas presentes e também da Cáritas, entidade com a qual disse estar vinculada desde os 13 anos, quando ganhou do pai o livro “Revolução dentro da Paz”, de Dom Helder Camara, que lhe chamou para o cuidado com animais e pessoas, em meio à realidade de desigualdades e ruptura de direitos devido à ditadura existente naquele momento no Brasil. 

Entre uma história e outra pinçada de sua coleção de vivências, Isabel Lima contou como ainda muito jovem foi convidada a participar de um processo de alfabetização de adultos e acabou alfabetizando-se, ela própria, a ser gente. Trouxe a referência mitológica de Hércules que foi ajudado por um jovem solidário, com sua tocha, a destruir a hidra comedora de pessoas na cidade de Lerma. “Recorro ao utópico – o não lugar – para chamar o lugar possível e o sonho que nos agrega num momento de tanta guerra, tantas vulnerabilidades”, afirmou.

Descreveu como foi compreendendo aos poucos – como mãe, avó, juíza, pessoa – que todo mundo se desenvolve, faz e acende sua tocha a partir do seu enredo vivenciado, ou seja, do seu “antes”, na dimensão diária de suas narrativas. “Ninguém tem medo daquele que se conhece a história”, lembrou. A faculdade de Direito não lhe ensinou os trilhos do cuidado e da compaixão, foi aprendendo no cotidiano da ousadia, seja na sala, com a vizinha, ou na comunidade.

Para Isabel Lima, falar de proteção constitui a possibilidade do entusiasmo para manter a tocha acesa e elaborar um projeto de vida. É a possibilidade de, apesar das dores, vislumbrar saídas. “Somos capazes de promover com nossas vidas um repertório de cuidados com o ser humano, conosco e com o outro. Somos canais de audiência do universo, de escutar o planeta além da escuta auricular, porque o outro e a outra pessoa é um ser que me reflete na minha humana e vulnerável condição”, completou. 


Momentos de Partilha


Os Encontros de Formação da Rede Cáritas RS proporcionaram momentos de partilha de emoções e conhecimentos. O segundo encontro, no dia 14 de junho de 2022, iniciou com uma nuvem de palavras sobre os sentimentos despertados a partir das reflexões sobre a Política Nacional de Proteção da Cáritas Brasileira e o diálogo com a juíza aposentada Isabel Lima sobre “Dimensões do Cuidado: Como promover a proteção?”, ocorrido no dia 07 de junho.

 Em 14 de junho de 2022, a socióloga Flávia Palha, assessora da Cáritas Regional NE3 e doutoranda em Estudos Étnicos e Africanos da Universidade Federal da Bahia, discorreu sobre o que é assédio, abuso preconceito, discriminação e outras conceitos e circunstâncias que precisamos conhecer para identificar, prevenir, ou enfrentar pedagogicamente no cotidiano da ação de Cáritas.  No dia 21 de junho, o psicólogo Toninho Evangelista, secretário da Cáritas de São Paulo e integrante do Comitê de Ética, falou sobre o Caráter Pedagógico e as Ferramentas para Implementação da Política de Proteção da Cáritas Brasileira.


Genessy Gema Bertolini, da Cáritas Diocesana de Caxias do Sul (RS), resumiu assim os três encontros, com sensibilidade e perspicácia:


“Isabel nos convidou e inspirou a ir além de uma alimentação saudável. Instigou a navegar nas profundezas das águas de pequenos riachos a grandes rios, que percorrem as práticas e os corações, construindo e desconstruindo histórias e trajetórias, sempre com respeito ao próximo. Com essa conexão é que fomos motivados a tratar de um código de conduta Ética, que foi, cuidadosamente, sendo construído, não para ser punitivo e sim para ser pedagógico e educativo.

No segundo encontro, já sensibilizados e embalados por uma nuvem de palavras construída por muitos corações, fomos agraciadas com as contribuições de Flávia, que tratou da compreensão e identificação do assédio moral, do abuso, do preconceito e da discriminação. Ilustrou com exemplos que nos possibilitaram enxergar além da caixa cinza. Levou-nos a refletir sobre o quanto podemos ser, e por vezes somos, preconceituosos. O quanto discriminamos, o quanto inferiorizamos e praticamos violência, mesmo quando acreditamos estar sendo defensores e defensoras dos direitos humanos. Quem discrimina destitui o direito à vida. Nós, enquanto Cáritas, assumimos a missão de cuidar e de promover a vida. Estar cientes de que somos condutores da fé e da esperança fortalece nossas ações de empatia, potencializa o protagonismo e a humanidade. Então, que possamos ser sempre rios, sinos e profetas da fé e da esperança.

 O assessor Antônio Evangelista – Toninho -, nos brindou com sua fala mansa, calma e serena, transmitindo com clareza a sua expressiva contribuição acerca do caráter Pedagógico e das Ferramentas para implementação da Política de Proteção da Cáritas Brasileira. 

Iniciou a sua fala trazendo o Lema da Campanha da Fraternidade 2022: “Fala com sabedoria, ensina com amor”. É um chamado a todas as pessoas para se colocarem no centro de suas reflexões e ações. Em seguida, traçou um paralelo acerca da parábola do Joio e do Trigo e nos indagou a pensar se, por vezes, em nossas ações não somos mais joio do que trigo.

 Enquanto discorria sobre o assunto, me senti motivada a refletir sobre minha prática cotidiana. Será que eu estou oportunizando ao outro também a Ser, a Dizer, a Estar? Será que com minhas atitudes eu não estou “podando”, intimidando, cerceando a possibilidade de que a outra pessoa também exerça o direito de se manifestar?

Penso que nós, que temos o sobrenome Cáritas, como nos lembrou Jacira Cáritas, temos a alegria, e por que não dizer a sabedoria de utilizarmos místicas como forma de promover sensibilização. Místicas que servem como “quebra gelo”, pois encorajam pessoas a se tornarem protagonistas, superando seus medos e suas vergonhas, pelo simples fato de participar das dinâmicas.

Num segundo momento, Toninho nos convidou a a ressignificar nossos valores, nossos processos e nossas ações como forma de nos darmos conta de que não somos donos da verdade, precisamos escutar o que as outras pessoas têm a dizer. 

Num terceiro momento, ressaltou sobre a necessidade de termos um Protocolo, que precisa ser percorrido, ser vivenciado enquanto fio condutor, como um processo e não como um fim. Porém, é preciso que estejamos atentos aos princípios que norteiam a Política: o cuidado, a solidariedade, a equidade, o protagonismo, a Justiça, com atenção especial aos pobres, aos mais necessitados, a oprimidos, a marginalizados, a excluídos das mais diversas instâncias do viver. Comprometemo-nos a combater a pobreza desumanizante, que rouba das pessoas sua dignidade e humanidade.

Também lembrou da incompletude da Política de Proteção, do constante processo de construção e das instâncias de tratamento frente a fatos novos, situações adversas que permeiam o cotidiano. Ressaltou que precisamos nos capacitar para acolher as pessoas e as denúncias, tratar com cuidado, redigir os textos com ética, encaminhar com sigilo e proteção, zelar pelos direitos, dar informações e retorno em todas as fases do atendimento e encaminhamento. 

A colega Jacira Cáritas ressaltou a importância da disseminação da política e da multiplicação do aprendizado, promovendo a formação para o voluntariado, diretoria e conselhos. Lembrou da importância da assinatura do termo de compromisso para integrantes da rede Cáritas. Esclareceu sobre a proposta de fluxo de tratamento de denúncias ou pedido de esclarecimento em nível local, diocesano regional e nacional.  

Para fechar com “chave de ouro”, ouvimos o Hino da Cáritas, cuja beleza não está somente na letra e na melodia, mas nos significados das imagens retratadas pelas ações do cotidiano da Cáritas RS. E... é claro, não poderia faltar, mesmo que de forma virtual, nos despedimos com um grande e carinhoso abraço”.


SOBRE O DOCUMENTO 

A Política Nacional de Proteção da Cáritas Brasileira é um documento para ser consultado e aplicado no dia a dia da entidade. Construído a várias mãos e lançado em março de 2021, tem como objetivo contribuir para fortalecer a rede Cáritas na defesa da vida. O documento orienta sobre o código de conduta ética e os mecanismos de salvaguarda de agentes Cáritas para prevenir, enfrentar e intervir em situações de discriminação, assédio e outras formas de desrespeito à missão e aos valores institucionais da rede. 

 


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